Por estes dias fui à
cabeleireira, tarefa essa que toda a mulher sabe que deve fazer de forma
desocupada. Ir com pressa para o meio de tesouras, tintas e loções não existe.
Contudo, estava lá uma senhora
como nunca tinha visto, coberta de inquietude. Dez minutos de espera, mesmo
rodeada de revistas de lifestyle e cortes da moda, pareciam agulhas a perfurar
o sofá onde estava sentada.
Também não está na minha essência
esperar. É como escreveu Saramago “Não tenhamos pressa, mas não percamos
tempo”. Em boa verdade, parece-me que procrastinar é que é a tendência. Tenho
mais certeza quanto a isto do que em relação aos cortes de cabelo.
Quais bolas de sabão, a pairar, ao
sabor do vento, pessoas e decisões baloiçam no mundo da procrastinação, em
torno de uma cabeça sem tempo disponível. Esperam melhores dias e melhores
momentos, numa espécie de prateleira imaginária, onde arrumamos ideias confusas
e disformes.
Se já fizeram bolas de sabão,
sabem bem qual é o destino delas. Algumas voam alto, e desaparecem. Outras (a
maioria) acabam por esbarrar numa parede e ploft! Rebentam, espalhando gotículas
de água por todo o lado. Da sua existência, resta um chão molhado, que em breve
seca. E é como se nunca tivessem existido.
Deixam-se pessoas e vidas em
suspenso. Adia-se e espera-se, sem parecer haver a plena noção de que, num
mundo paralelo, que corre fora da nossa cabeça desorganizada, acontecem coisas,
em ritmos alucinantes, às vezes. E o que faz sentido hoje, amanhã pode ser
diferente. E o tal tempo quem que “há-de ser” pode nunca chegar. Pode nunca ser
o dito momento, e enquanto isso mantém-se cheia a prateleira dos suspensos, que
vamos revisitando de tempos a tempos, ainda que não saibamos muito bem o que
queremos encontrar lá. Depois? Voltamos a colocar tudo no sítio, ainda que seja
o sítio errado, diferente daquele onde estava, só para poder ficar a ganhar
mais pó. Suspenso.
Sou por quem agarra o presente
com veemência. Quem não tem muito tempo para esperar, porque tem pressa de
viver. A seu tempo, sem pressa, mas sem muito vagares que pouco acrescentam.
Procrastinemos, pois, se assim o
entendermos, mas sabendo que tudo na vida é efémero. Até a própria vida.
Foto: http://segredosdomundo.r7.com/wp-content/uploads/2016/10/3-20.jpg
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