quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Depois da enxertia, ficamos hídrios

Estão a ver aqueles filmes em que as pessoas são substituídas por robots ou então sofrem “afinações”? Em que são mais perfeitas e fazem tudo bem, além de terem montes de utilidades práticas, que os humanos normalinhos não possuem? É só para vos avisar que isto está a acontecer.
Ocorrem-me Os Substitutos, a Ilha, Mulheres Perfeitas, e há um de que eu gosto muito, que é com o puto do Sexto Sentido, mas que agora não me está a vir o nome.
Pois bem, lamento deixar este triste aviso à navegação – esqueçam as pessoas com defeitos. Isso é old school.
As pessoas deixaram de ter defeitos muito por culpa da Conversão. A Conversão é uma máquina invisível que vive na cabeça dos seres humanos deste século, onde entram pela retina pessoas banais e cravam-se no cérebro super-heróis. Convertem-se os defeitos em virtudes que nos tornam em “únicos, insubstituíveis e fabulosos”, entre outros adjectivos nesta linha. Não os costumo usar, por isso, perdoem-me a falta de minúcia.
Então não é que agora não há teimosos? Nem chatos? Nem feios? Não se é teimoso, é-se “perseverante”. Não se é chato, é-se “insistente”. Não se é feio, é-se “peculiar”. Podem dizer que são prismas diferentes de ver coisas que permanecem iguais, mas, para mim, que continuo presa no passado, isto são tudo é palavras com significados diferentes, podendo ser, no máximo, eufemismos.
Já não há pessoas sem carácter. São “simplistas” agora. Gente má rês foi à dita máquina, apertaram-se uns parafusos, e pronto.
“Ah, mas toda a gente tem um lado B.” Acredito piamente, mas também não acho que suprir defeitos a torto e a direito seja ser politicamente correcto. Estou em crer que em muitos dos casos estamos só a ser condescendentes. Soubesse a Humanidade que a solução, afinal, está na forma como se diz…
Quem se lixa nesta história, são, como sempre, os bonzinhos. De que vale ter montes de qualidades, ter atitude, ter acção, num mundo onde tudo é passível de ALSF (para quem não teve adolescência, isto significa Amor Louco Sem Fim, e escrevia-se nas portas das casas-de-banho da escola, associado a um nome, que mudava de mês a mês) quase de forma instantânea? Mesmo uma noz seca, com um pouco de pó de arroz, transforma-se numa diva.
Hoje li uma frase, em português do Brasil, que dizia assim: “Você tem o direito de ser esquisito”. E talvez eu seja só uma gaja esquisitinha, daquelas mete-nojo, que implica com tudo.
Espera lá… “gaja” e “esquisita” são palavras feias… Não, vou ser antes uma “jovem” com uma “mente invulgar”.
Não sou de modas, mas, podendo ser um hídrico, e fazer uma operação plástica aos pordentros, não sou menos do que ninguém!



Publicado originalmente em Notícias do Nordeste




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