sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Vamos a isto!

Se há coisa que me irrita – e que me caia já um raio na cabeça se isto não for verdade – são as pessoas apáticas.
Gosto de pessoas que vão à luta, que quando não têm fazem por ter, pessoas que riscaram, com um lápis azul moderno, as palavras “não” e “impossível” do seu dicionário.
Sou um pouco idealista, é verdade. Acredito demasiado nos outros, e pior do que isso, em mim mesma (erro crasso). Ainda assim, é bom saber que me posso acercar de pessoas como eu – grito de felicidade porque não estou sozinha no mundo.
É maravilhoso ter ideias, semeá-las, regá-las, adubá-las e depois, quando é tempo, fazer a sua devida colheita. Ora pensem em todas as coisas que ao longo da vossa vida conseguiram realizar? Não é uma sensação – desculpem o calão – do caraças?
Há pouco tempo cheguei a uma conclusão óbvia, e que no meu caso adveio tardiamente. E é simplesmente isto: pessoas apáticas (que normalmente são negativistas) funcionam como âncoras de um cruzeiro de luxo.
O convívio excessivo com estas pessoas vai tornar-nos como elas. Então, mesmo tendo ganho num sorteio mirabolante, não um colchão Molaflex, mas sim uma viagem inesquecível a bordo desse tal cruzeiro, vamos recusar. Não vamos, que assim ninguém se inquieta! É como se nos tivessem prendido um grilhão de ferro pesadíssimo ao pé. Aos dois pés. Sofremos uma metamorfose, e, lá está – âncoras! O casco desse cruzeiro nunca irá saborear o sal do mar alto porque não tem passageiros para levar consigo. Será como um Costa Concordia, e não com um Allure of the Seas.
Eu cá adoro é embarcar nestas viagens alucinantes, com pouca roupa e muito protector solar, só para prevenir. Alvitro que sejamos não aquele irritante turista mimado, mas sim a hospedeira, o cozinheiro, o capitão e o empregado de mesa que sorri quando é chamado e que sai disparado, alegre por ajudar. Nós somos partes vivas desse cruzeiro. E daí ser de luxo, por ter tamanha tripulação.
Está a ver aquela ideia que tem na gaveta? Aquele projecto para o qual nunca pediu orçamento? A obra de bricolage que tem andado a adiar? O plano de ginásio pendurado no íman do frigorífico que ignora todas as manhãs? Pois bem, hoje é o dia de pegar em tudo e de arregaçar as mangas.
Vivo de ideias. Muitas vezes, nunca passam disso. São só ideias. Contudo para mim é como um combustível feito através de uma energia renovável. Para além de não ser poluente, nunca se esgota. De onde veio esta, há mais.
Há umas linhas atrás escrevi que grito de felicidade por não estar sozinha, nisto que considero ser uma demanda à escala planetária. E por estes dias, sem caber em mim de contentamento, constatei o quanto fui tansa por um dia ter achado o inverso.
 Por isso, estas palavras são em especial dedicadas a todos os sinais “mais” da minha vida. Àqueles que não usam de condescendência, como se eu estivesse doente com uma febre qualquer que me afecta gravemente o cérebro, deixando-me insana.
Obrigada a todos que me olham nos olhos, sorriem com franqueza e entusiasmo, e dizem prontamente “vamos a isto!”



O que é meu, é meu!

Quero primeiramente, em jeito de chamada de atenção, chocar quem, por engano, ler estas linhas.

Sem mais delongas, venho manifestar todo o meu fervoroso apoio às cenas de ciúmes. E não, não falo dos arrufos fofinhos de casais, que terminam com ambos a emitir sons estranhos, quais gatinhos a ronronar. Não. Não mesmo. Falo daquelas cenas de filme, com bibelôs a cruzar salas furiosamente, com o rímel a lavar a cara, com urros, ora enraivecidos, ora esganados.

Amor que é amor, tem que ser na rédea curta. Isso de ser liberal é para quem não ama. Confiança? Jesus confiou em Judas, e viram onde a coisa acabou. E antes que alguém vos pregue a uma cruz, vejam bem com que linhas se cosem.

Gosto de extremos. Se é para amar, que seja até a um limite inalcançável, onde reine o sentimento de posse. Se é meu, é meu.

Mas antes de correrem a comprar redomas de vidro, ou começaram a urinar nas pernas do objecto da vossa paixão, continuem a ler, por favor.

Se vamos escolher alguém, que seja um alguém especial. Um alguém como não há em lado nenhum. Vamos acreditar que fomos feitos em pares. Sim, cada um encontrará o seu par. Não um complemento, ou peça perfeita do puzzle. Isso não é amor, é conveniência. Uma forma absurda de fechar a porta à vida, e de lhe roubar o chupa-chupa. Uma relação a sério terá romance, intriga, drama e tragédia. Às vezes será uma comédia recheada de humor negro, que nos fará duvidar das nossas escolhas. Haverá dias de verão, de inverno, e os de meia-estação. Nunca será perfeito, e a sua perfeição estará justamente aí.

Haverá pessoas perfeitas? Claro que há. Basta que as vejam com o vosso coração, e não com a razão. Não ter máculas é aborrecido. Sem graça. Sensabor.

E por tudo isto temos ciúmes, porque encontramos uma utopia só nossa. Estamos a viver o nosso sonho, e não vamos deixar que nos o roubem. O amor não confia, tem sempre o sobreolho franzido, à espera de um motivo para gritar “Ah, ah, apanhei-te meu malandro!”.

Por isso gosto das cenas de ciúmes. São como água da chuva após uma longo período de sol – refrescam, limpam a poeira e, literalmente, acabam com a seca dos dias somente assim-assim. Não se inibam. Pelo sim, pelo não, tenham sempre dois ou três bibelôs sempre a mais e à mão de semear (daqueles que nos dão pelo Natal, e dos quais não gostamos). Expressem-se de forma aberta aos vossos parceiros. Mostrem-lhe como eles são importantes, e que não querem que vos sejam arrebatados, sem luta, sem sangue, sem lágrimas.

Depois? Façam as pazes, de forma ardente e com muito vagar. E não se esqueçam de sussurrar, entre um beijo e outro “o que é meu, é meu!”, só para garantir que a pessoa amada sabe todos os termos do contrato que vos une.